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Foto do escritorFê Chammas

UM PASSO DEPOIS DO OUTRO

ESCUTAR OS CHAMADOS DA VIDA TEM TORNADO PRAZEROSA A CONSTRUÇÃO DO CAMINHO


*Texto publicado originalmente em 29/06/2017


Essa foto do meu crachá foi tirada há exatos 1775 dias, quando comecei a trabalhar no Google.


Ainda lembro do turbilhão de sensações que essa história gerou. O processo seletivo para o estágio durou 6 meses e entrei nele sem acreditar que eu poderia ser selecionado.


Mas a vida me chamou e eu fui.

Depois da 6a entrevista, na última fase do processo, a ideia já não me parecia tão insana. Estava confiante.


Não passei.

Me direcionaram pra uma vaga e, apesar de terem gostado de mim, tinha alguém mais qualificado do que eu para aquele trabalho. E não havia outras vagas abertas para tentarem me realocar.


Me frustrei.

Fui aconselhado a entrar em contato com o Google depois que me formasse para, então, tentar uma vaga de efetivo — o que, pra mim, soou como mera mensagem de consolo.


Me sentia pressionado para "ser alguém na vida".

Meus pais pagavam caro pela minha educação e, apesar de eu já trabalhar há 3 anos, eu ganhava R$600 por mês. Talvez eu me formasse e não fosse capaz nem de me sustentar. E a profecia do meu pai, de que eu não seria ninguém estudando publicidade, se concretizaria.


Não passando, acreditei frustrar também a alguns queridos que acompanhavam o processo e, assim como eu, estavam confiantes.


Desacreditei de mim mesmo.

Mas tinha um questionamento que não saía da minha cabeça. Ser selecionado seria uma prova de que eu era inteligente e poderia "dar certo" na vida.


Mas, se quase passei no processo e se algumas pessoas e eu mesmo chegamos a acreditar que eu era capaz, por que uma única resposta negativa podia acabar com tudo isso?

Fiquei encucado com o fato de eu precisar de endossos de uma instituição para legitimar minha capacidade. E comecei a perceber o quanto isso estava presente em mim, para muito além da vida profissional. Amizades, relacionamentos amorosos, família.


Segui a vida e, duas semanas mais tarde, recebi um e-mail sobre uma outra vaga de estágio no Google, que ainda não havia sido preenchida, perguntando se eu tinha interesse. É claro que eu tinha.


Passei.

A experiência começou e me deslumbrei. Pessoas solícitas, escritório divertido, comida à vontade, trabalho desafiador, autonomia e tudo mais que eu poderia desejar em um trabalho.


Fiquei positivamente surpreendido com a lógica de colaboração no qual meu time funcionava. Entrosamento profissional e conexões pessoais. Nunca tinha visto aquilo antes — pelo menos não naquele nível — em nenhuma das minhas experiências de trabalho.

Dediquei muita energia aos 5 meses de estágio e fui efetivado.


A vida me chamou e eu fui.

E a jornada que veio em seguida foi melhor que um sonho. Foi realidade.


Flexibilidade para com a vida pessoal, desafios profissionais, amizades, respeito pelas pessoas e diferenças, viagens a trabalho, acesso às discussões e novidades da tecnologia, viagens pessoais, palestras inspiradoras assistidas, promoção, bike pro trabalho, liberdade para ser no ambiente profissional quem eu realmente era na minha vida pessoal, opções veganas e saudáveis em todas as refeições, possibilidade de construir iniciativas em busca de justiça racial dentro e fora do escritório, trabalho voluntário, palestras dadas, conscientização sobre a causa LGBTQ+, gestão de clientes grandes dentro da companhia, muito aprendizado com o pessoal da cozinha e um trabalho com comunidades indígenas e quilombolas.


O Google se tornou parte integrante da minha vida — e isso sem precisar me obrigar a trabalhar por uma quantidade insana de horas.

Curioso que sempre fui, enquanto estive lá pude continuar me descobrindo, redescobrindo meu mundo a partir de novos pontos de vista e descobrindo novos mundos.


E no meio de tanta descoberta, depois de alguns anos, me percebi menos presente naquela realidade. Não me senti satisfeito com as coisas às quais estava me dedicando e entendi que queria viver experiências que talvez o Google não pudesse me proporcionar.

Sofri para encarar essa novidade.

Briguei comigo, discuti com queridos e me revoltei com a situação.


Entrei em crise.

Como seria não trabalhar no Google? Como ganharia dinheiro? Onde ia morar? Como ia fazer minhas viagens? E se eu me arrependesse? E todas as portas que o Google podia me abrir? Será que nenhuma delas poderia me trazer essas experiências?


De novo, a vida me chamou e eu fui.

Me parecia que a melhor forma de responder a todas essas perguntas era entender quais eram essas experiências que eu queria ter


Mergulhei mais fundo na minha prática de yoga. Comecei a fazer terapia. Fiz um curso. Comecei uma pós. Li um livro. Parei a pós. Viajei para lugares que me me atraíam e pareciam ter essas experiências. Conheci gente de outros círculos. Li outro livro. Participei de vivências. Comecei uma formação em yoga. Fui a eventos que me chamavam a atenção, mesmo que não conhecesse nada nem ninguém. Fiz outro curso. E outro. E vou fazer outro.


Pouco a pouco, fui percebendo aquela mesma energia de quando comecei o estágio no Google pulsando pelo meu corpo e minha alma clamando por uma mudança maior.


Me acolhi compassivamente e aceitei a realidade.

Comecei a dar os passos para concretizar essa mudança, que está se tangibilizando hoje.


Entendi que a crise que vivi não era um problema. Muito pelo contrário, ela foi a solução para os desalinhamentos que eu estava vivendo.

Fazendo a retrospectiva desses 4 anos e 10 meses de Google para escrever aqui, ficou ainda mais evidente o tamanho da gratidão que sinto pela oportunidade de ter vivido tudo isso. Encerro esse capítulo com a certeza de que sem cada detalhe dessa história, este momento presente não seria possível.


Ao Google e a todos os queridos cujos caminhos cruzaram com o meu: muito obrigado.

Vocês, de muitas maneiras, seguem comigo.


Dou mais um passo e continuo com as mesmas curiosidade e energia que me trouxeram todos esses presentes ao longo do caminho, confiando que o tempo rei vai mostrar os próximos a serem desembrulhados.

A vida tá chamando e eu continuo indo.
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