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Foto do escritorFê Chammas

APRENDENDO SOBRE RECIPROCIDADE COM AS BANANEIRAS

Atualizado: 1 de nov. de 2023

AS BANANEIRAS CRESCEM NÃO PORQUE EU AS PLANTO, MAS PORQUE EU PARTICIPO DO ESQUEMA COOPERATIVO DA COISAS.


Anteontem, eu tava roçando o quintal aqui de casa quando vi que mais uma das 11 bananeiras que espalhei pelo terreno havia colocado a cabecinha para fora da terra.


Agachei pertinho dela.
Um arrepio percorreu meu corpo.
Sorri e comemorei.

"Que alegria ver mais uma dessas árvores que amo tanto aparecendo no mundo, ainda mais sabendo que eu fui o responsável por ela estar ali", pensei.


Mas, ainda agachado, me questionei: "sou eu mesmo o responsável?"


Eu fiz algumas coisas: colhi as mudas, cavei o buraco, coloquei-a lá e depois reguei algumas vezes.


Mas foi o sol quem ofereceu luz. Foi a chuva que trouxe águas em volumes substanciais tão necessários para essa espécie. A bananeira que criou raízes, a terra que ofereceu nutrientes. E foi a planta que se organizou, cresceu e rompeu a superfície da terra.


O que eu fiz, de fato, foi trabalhar junto com essas forças - a luz do sol, as chuvas, os nutrientes, microorganismos e insetos da terra, as raízes e o pseudocaule da bananeira.

Mais um arrepio me percorreu e algo em meu interior se moveu, compreendendo que esse trabalho faz um sentido muito profundo pra mim, um sentido que vai além da explicação.


Reconheci que carrego um anseio que me parece muito mais antigo que minha própria existência.

Um anseio por reciprocidade.

Reciprocidade com todos os seres que têm me sustentado desde sempre - e quem melhor para exemplificar isso do que uma bananeira?

Reciprocidade com todas as forças que sustentam a vida no planeta - a gravidade, os cursos d'água, a lua, a luz do sol, as chuvas...

Reciprocidade também com os seres que me nutrem de maneiras mais sutis - como o pássaro que canta toda manhã aqui no meu quintal e, em breve, vai bicar a primeira banana que amadurecer no cacho.

Reciprocidade com as coisas que minhas células sabem que são suas ancestrais - terra, raízes, fungos, padrões espirais que as folhas da bananeira também seguem.


É um anseio por oferecer algo aos que me oferecem tanto.
Um cuidado, uma ação.
Uma presença, uma oração.
Um poema, um plantio ou uma rega.

Finalmente entendi: aquela bananeira não nasceu porque eu plantei-a ali, mas porque eu participei do esquema cooperativo das coisas. Isso me deu a noção nítida, a níveis sensorial e prático, de que estou trabalhando em cooperação com todos esses seres e forças.


Essa reciprocidade me faz ter a certeza, dentro de mim, que sou parte, pertenço a algo forte, potente, grandioso e criativo, e que tenho algo com que contribuir.


"Uau, que privilégio poder cooperar com seres e forças tão grandiosos como o sol, as nuvens e os ventos", celebrei. E chorei de gratidão.

 

Recentemente, soube de duas pessoas bem jovens e muito queridas por pessoas próximas a mim que faleceram, ambas em acidentes de carro.

Senti uma dor grande ao ver vidas interrompidas de maneira abrupta e precoce.

Senti com força o poder avassalador da morte.

Reconheci a profundidade e a brevidade da vida.

E orei muito por eles, suas famílias e amigos.


Passei algum tempo em relação com a morte e, principalmente, dada a eminência dela a todas nós, sobre como quero então experimentar a vida que sigo recebendo enquanto estou vivo.


Em momentos como esse, em que as bananeiras colocam a cabeça para fora, explicitando a potência criativa da terra e evidenciando minha capacidade de estar em reciprocidade como todos os seres e forças que aqui habitam, confirmo: assim vale a pena viver.
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